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Dia 26 de março, segunda-feira

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em entrevista ao programa Conexão Roberto D’Ávilla, afirmou mais uma vez que ações como a intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro levam tempo para surtir efeito. 

O general também disse que vê no crime organizado a “maior ameaça à soberania nacional”. Segundo ele, o tráfico de drogas está na base da violência do país. “A questão do crime, e tendo a droga como pano de fundo, leva a uma verdadeira metástase silenciosa que está corroendo nossa juventude”, afirmou.

De acordo com o general, a Polícia Federal estima que aproximadamente 80% da violência urbana esteja ligada direta ou indiretamente à questão das drogas.  Disse ainda que o papel das Forças Armadas não é resolver conflitos sociais, mas garantir estabilidade e segurança para que estado e governo possam atuar. “Nós mesmos passamos 14 meses na Maré. Houve períodos em que nem mesmo o lixo era recolhido. Então aquele caldo, aquele ambiente social extremamente prejudicial não se alterou. Em consequência, uma semana depois de termos saído, voltou ao status quo anterior”.

O sábado (24) foi mais um dia difícil para o fluminense. Em Niterói, um PM e sua namorada foram encontrados mortos com marcas de tiro. As investigações iniciais apontam que o policial, que era lotado na UPP do Andarai, matou a mulher e se suicidou. 

Mas foi na Rocinha que a situação ficou grave. Um confronto entre a PM e criminosos começou às 5:30 e, às 9h, já havia deixado oito mortos. Segundo a PM, todos tinham envolvimento com o tráfico de drogas. Com os mortos, foram encontrados um fuzil, seis pistolas e duas granadas. As vítimas foram levadas para o Hospital Miguel Couto, mas não resistiram, segundo a Prefeitura.

Parentes das vítimas estavam consternados no hospital e acusaram a PM de muita agressividade, relatando que nem todos os mortos tinham envolvimento com o crime.  O pai de Matheus da Silva Duarte, de 19 anos, que morreu baleado pelas costas, afirmou que o rapaz participou de um baile funk na localidade com roupa suja, mas  que não era criminoso. Importante relembrar que na quarta dia 21, em outro confronto, um PM e um morador já haviam sido mortos.

A operação foi realizada pelo Batalhão de Choque com apoio de outros batalhões. O tiroteio foi tão intenso a ponto de a Prefeitura sugerir que motoristas evitassem a região. A Rocinha vem tendo seguidas operações policiais bem antes da intervenção federal. Nos últimos seis meses, 51 pessoas morreram, sendo 48 criminosos, dois policiais e um turista. Dos feridos, foram nove policiais e 11 moradores. 

A PM registrou que nos últimos seis meses 105 pessoas foram presas. Foram apreendidos três submetralhadoras, três pistolas falsas, cinco fuzis falsos, 38 fuzis, 66 pistolas, 69 granadas e mais de duas toneladas de drogas. 

Na cidade de Maricá, cinco jovens foram assassinados a tiros.  Os corpos estavam num conjunto habitacional chamado Carlos Marighella. Eles tinham entre 16 e 20 anos. A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo assumiu as investigações. Até o fim de domingo, nenhum suspeito havia sido encontrado. 

A Prefeitura de Maricá emitiu nota indignada, considerando inadmissível o ocorrido frente aos esforços da cidade em ações sociais. A Prefeitura assumiu compromisso de redobrar as ações sociais e decretou luto de três dias na cidade. 

Ontem (25), o jornal O Globo fez uma importante e qualificada matéria sobre o Complexo de Gericinó, um conjunto de 13 cadeias. A matéria mostra que as cadeias viraram, de fato, o verdadeiro escritório do crime e chama à atenção para a superlotação. 

O complexo Bangu 2 chega a ter uma lotação 174% maior. A cadeia pública, 131%; Munis Sodré, 122%; Bangu 5, 120%; Cadeia Paulo Roberto da Rocha, 116%. Esses são alguns exemplos que o Observatório vai detalhar em dois ou três Retratos da Intervenção. 

Ontem o jornal Folha de S.Paulo divulgou pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Datafolha, segundo a qual, 76% da população que vive na capital apoia a intervenção, mas não vê melhora na cidade. Outros 20% são contrários e 5% não opinaram.

A pesquisa indica que o apoio à intervenção não mudou após o assassinato da vereadora Marielle Franco. O Datafolha quis saber se a segurança na cidade vai melhorar: 52% acham que vai melhorar; 36% acreditam que vai ficar igual; 8% acham que vai piorar; 4% não sabem.

A maioria acha que ação do Exército não fez diferença: 71% não viram melhora; 21% acreditam que melhorou; 6% acham que piorou. Segundo a pesquisa, todos os seguimentos sociais apoiam a intervenção. 

A região que mais apoia é a Zona Oeste, com 81%, e a que menos apoia é a Zona Sul, com 61%. A maior reprovação está entre os jovens de 16 a 24, quando 31% desaprovam. 78% de quem mora em favelas aprovam. 76% de quem mora fora de favelas aprovam. O apoio entre brancos, pardos e negros é igual: 76%. Entre os homens, a aprovação é de 79%; entre as mulheres, 73%.

A pesquisa ainda aponta que das pessoas com apenas o Ensino Fundamental, o apoio é de 80%. Entre os de nível superior, o apoio é de 70%. Entre os que ganham até cinco salários mínimos, o apoio é de 79%. Na parcela dos que recebem mais de dez salários mínimos, de 66%. 

Além disso, o levantamento mostrou que 73% dos moradores gostariam de deixar o Rio por causa da violência. Um dado mostra que quem mora em favela tem mais medo da polícia (22%) do que dos traficantes (16%). 

Hoje (26) acontece uma audiência pública às 10h, promovida pela Defensoria Pública da União e Defensoria Pública do Estado. O tema será: “A Intervenção Federal e seus Reflexos no Cotidiano da Favela”. A equipe do Observatório estará presente.

Até Amanhã,

Equipe do Olerj