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A Baixada Fluminense grita Paz

 

A primeira dificuldade para entender e enfrentar os problemas da região  da Baixada Fluminense aparece na  existência de diferentes abordagens para delimitar o espaço político-geográfico da região. Nos sites e blogs produzidos por pessoas que moram na Baixada, a configuração mais usada é aquela que compreende oito municípios: Nova Iguaçu, São João do Meriti, Japeri, Queimados, Mesquita, Nilópolis, Belford Roxo e Caxias. São cidades que guardam uma padronização em termos de desenvolvimento urbano e uma constituição histórica formada a partir da Baía da Guanabara. 

A divisão oficial do estado por regiões considera o Noroeste Fluminense, Norte Fluminense, Serrana, Baixadas litorâneas, Metropolitana, Centro-Sul Fluminense, Médio Paraíba e Costa Verde. Os municípios da baixada estão incluídos na Região Metropolitana. Para a Secretaria de Segurança Pública a Baixada Fluminense é composta por: Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis, Mesquita, São João de Meriti, Queimados, Japeri, Paracambi, Seropédica, Itaguaí, Magé, Guapimirim e Belford Roxo que estão na área de abrangência do 3º Comando de Patrulhamento de Área (CPA) antigo Comando de Patrulhamento da Baixada.

Apesar da multiplicidade dos arranjos de composição, a nomenclatura “Baixada Fluminense” é usada em estudos e matérias sobre violência no estado desde a década de 60.  E nos últimos dias, a região tem sido destaque na mídia com a divulgação de que Queimados foi alçada ao posto de cidade mais violenta do Brasil.

 

1 – Dados gerais sobre violência em alguns municípios da Baixada

A Baixada tem reunido os maiores índices de criminalidade do Estado do Rio de Janeiro. A taxa de letalidade violenta (agrupa os óbitos ocasionados por lesão corporal seguida de morte, latrocínio, homicídio doloso e homicídio decorrente da intervenção policial) para cada 100.000 habitantes mostra a dimensão do problema.

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Nos dados do Instituto de Pesquisa Aplicada, IPEA, e do Fórum nacional de Segurança Pública, divulgados esse mês (agosto/2018) referentes às letalidades violentas no ano de 2016, a Cidade de Queimados alcançou a primeira posição com 134,9 mortes para cada 100.000 habitantes. Dos 13 munícipios incluídos no grupamento Baixada, usado pela Secretaria de Segurança, 11 estão na lista das 100 cidades com maior número de letalidades violentas do Brasil.

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O Instituto de Segurança Pública, ISP, divulgou dados do primeiro bimestre de 2018 por circunscrição de delegacias, um município da Baixada aparece em primeiro lugar em cinco categorias de crimes, dentre as seis listadas.

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2 - Baixada: indicadores sociais e violência

O Atlas da Violência/2018, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, FBSP, relacionou a violência aos indicadores sociais: “A violência no Brasil é extremamente concentrada em algumas regiões e municípios, sobretudo naqueles que têm os piores indicadores sociais”. A Baixada Fluminense soma pobreza e desigualdade. E, sem dúvida, um dos piores resultados dessa equação é a violência.

O Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento publicou em 2013 o Atlas Brasil com dados comparados de renda, que mostram exatamente a desigualdade na Baixada Fluminense, com índices que indicam a vulnerabilidade social da população.

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4 – Entrevistas

 

 4.1 Entrevista com D. Iranir, 44 anos moradora de Japeri

 

D. Iranir, a senhora mora a quanto tempo em Japeri?

Moro desde criança. Vim com meus pais lá da Paraíba.

Como é morar em Japeri?

É bom e ruim. Bom porque conheço todo mundo... Moro em cima da minha mãe que já é velha. Ruim porque aqui não tem nada. Não tem como arrumar trabalho aqui. Levanto todo dia às 4h30 para chegar às 8h no Centro do Rio. Se precisar de escola e posto de saúde também não tem. E quando tem, falta tudo...

E a violência ?

Tá uma coisa horrível... Perdi meu irmão que foi assassinado aqui perto de casa. Era trabalhador, mas ficou desempregado muito tempo e começou a fazer o que não presta... Mas mesmo sendo ladrão não merecia morrer daquele jeito. Falo muito para meus filhos para não andar por aqui. Eles estudam em Nova Iguaçu que a escola é melhor. A menina mandei para a casa da irmã, que voltou para a Paraíba. Aqui não é lugar para menina não... Tenho saudade, mas consolo achando que ela tá melhor lá...

O que a senhora acha que podia ser feito?

Eu acho que devia ter atividade para os jovens. Eles não tem nada para fazer... Como vão aprender um ofício? Ser jovem aqui é muito ruim...

 

4.2 - Entrevista com Manoel, 37 anos, Policial Militar lotado no 20º Batalhão em Nova Iguaçu

 

Como é ser policial em Nova Iguaçu?

Tá ruim ser PM em qualquer lugar do Rio, mas aqui é pior. Não temos estrutura para nada. Eu moro aqui em Nova Iguaçu e aí tem a vantagem de morar perto do trabalho, mas tem a desvantagem de ser alvo. Já mudei duas vezes para não me identificarem como PM e colocar minha família em risco.

Quais são as principais ocorrências?

É tudo. Muito homicídio, assalto, estupro, violência contra mulher... A gente vê a garotada entrando no crime cada dia mais cedo. Já vi criança com fuzil ... O triste é que sei que não tem jeito. Vamos prender e vão soltar. Aí vem pior ainda... Aqui o trabalho é só enxugar gelo porque nada é feito para dar condições melhores as famílias. Aí sobra para a polícia né?