Como a violência afeta o turismo
A importância do turismo no Rio de Janeiro
O turismo vem sendo considerado uma das atividades econômicas que mais se expande no país, e segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a atividade representa cerca de 4,9 % do PIB do estado do Rio de Janeiro.
O turismo é considerado uma das atividades de maior expansão no mundo e com um alto poder de agregação de serviços e negócios necessários ao seu desenvolvimento. E, além de estimular diversas atividades produtivas, o turismo envolve um segmento com alto poder de compra, atingindo indiretamente diversos setores da economia.
O estado do Rio de Janeiro é a principal “porta de entrada” de turistas no Brasil.
O turismo e o turista como vítimas
A sensação de insegurança generalizada que vive o estado do Rio de Janeiro e principalmente sua capital é alimentada pelo protagonismo da criminalidade em geral e dos episódios envolvendo confrontos armados nas manchetes da mídia.
O medo social, aquele que afeta a coletividade, é um fator decisivo para a desistência de um destino turístico. A violência e a sua divulgação na cidade do Rio de Janeiro provoca uma sensação difusa de medo que impacta diretamente a segurança necessária a sua escolha como um destino aprazível para as férias e passeios.
A sensação difusa de medo envolve um imaginário que “cria” ameaças potenciais e contribui na construção da “imagem” do lugar a ser escolhido para viver momentos de lazer e alegria.
Em 2011, o grupo de pesquisa “Turismo, Meio Ambiente Urbano e Inclusão Social” da Universidade Federal Fluminense (TUTisUFF) revelou que o medo da violência é um dos principais fatores na limitação de escolha de destinos.
Em 2017, as estatísticas oficiais divulgadas no jornal O Globo apontavam que, a cada noventa minutos, um turista (brasileiro ou estrangeiro) é assaltado, sendo que 92% dos casos aconteceram na cidade do Rio de janeiro. As praias, em especial Copacabana, são os locais com maior incidência.
Outros pontos turísticos como as trilhas da Floresta da Tijuca e o bairro de Santa Teresa também possuem grande incidência de roubos envolvendo turistas.
Os crimes envolvendo turismo provocam efeitos que vão além das vítimas diretas. Envolvem a fragilização de uma das maiores fontes de renda – e emprego – do estado.
Para atuar no combate, coleta e tratamento de dados, o governo do estado criou a Delegacia Especializada de Apoio ao Turista (DEAT). Em 2016, a Associação Brasileira de Hotéis, tendo em vista a proximidade dos Jogos Olímpicos, financiou a reforma do prédio onde funciona a delegacia e a reposição de insumos básicos como papel.
Impacto econômico da violência no turismo da cidade do Rio de Janeiro
Em 2017, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estimou uma perda de R$ 657 milhões em função da violência na cidade. O valor é calculado pela perda de faturamento de 8,9 dias do turismo local. Setores como bares e restaurantes, transporte, hotéis e pousadas e atividades culturais e de lazer tiveram seus serviços cancelados e/ou afetados por situações de violência vividas na cidade.
Empresários do setor de turismo estimam um aumento das perdas econômicas no setor e consequente diminuição de vagas de trabalho em função dos números de crimes e da sensação de insegurança.
Perda de receita de janeiro a agosto de 2017 com o Avanço da Criminalidade, segundo segmentos do turismo
A Confederação Nacional de Comércio estima que, para cada aumento de 10 % na criminalidade, a receita bruta das empresas que compõem a atividade turística do estado diminua, em média, 1,8%.
As expressivas perdas financeiras são extremamente potencializadas nos prejuízos à cidade pela perda de postos de trabalho. De janeiro a setembro de 2017, o setor perdeu 10.237 postos de trabalho formais com carteira assinada.
O turismo fluminense responde por 9,9% dos postos de trabalho formais e aproximadamente 7% da economia do estado.
Entrevistas
Entrevista 1 - Antônio, 67 anos, dono de um bar na cidade do Rio de Janeiro
Sr. Antônio, quando o bar foi aberto e onde é localizado?
Meu bar tem 64 anos. Meu pai abriu em 1954. Ele era imigrante português, vindo na década de 40 para o Rio de Janeiro. Começou a trabalhar como mascate (vendedor ambulante) até juntar suas economias com meu tio e abrirem o bar. A família inteira trabalhava no bar cozinhando, limpando... fazendo de tudo. O negócio cresceu e nossos quitutes como o bolinho de bacalhau e a sardinha frita alcançaram fama.
Na década de 70, o negócio expandiu. Meu pai precisou contratar gente para ajudar na cozinha e a servir. Fiz faculdade, casei e passei a trabalhar no bar em 1983. Tínhamos cinco funcionários.
Ele era um ponto ótimo em Vila Isabel. Já servi muito artista famoso... De noite, alguém puxava um violão e a noite era uma criança... Chegamos a ter mais de vinte empregados...
E como o bar está hoje?
Fechei em julho deste ano. Fui até me endividar. Sentia que o bar era mais do que um trabalho que me dava renda. Era um dever meu, como filho, continuar o sonho do meu pai.
Mas ficou impossível. Teve mês da gente ser assaltado duas vezes. E os clientes com medo de sair à noite, e sabendo que até dentro do bar podia ter assalto! Fui diminuindo o horário. Comecei a fechar à meia noite, depois às dez na noite... Fui diminuindo equipe e reduzindo tudo. Até que não vi mais como continuar. Tive que fechar.
Não vou poder passar o negócio para os filhos... Eu e minha esposa vamos sair do Rio e morar em Portugal. Tenho filho que já tá lá e espero que o outro vá também. Não dá mais... Acho que envelheci 10 anos em meses. Essa cidade me deu tudo. Mas agora sinto que tomou tudo de volta...
Entrevista 2 - John, 27 anos, canadense que veio passar férias no Rio de Janeiro
John, por que você escolheu o Rio de Janeiro?
Sempre quis vir aqui. Acho uma cidade linda com mil coisas para ver. Queria vir no carnaval, que acho a maior festa do mundo, mas não consegui... Vim agora com minha namorada. Ouvia falar da violência, mas achei que era exagero. Todo lugar do mundo tem violência. Quando fui a Itália furtaram minha carteira e achei que não seria diferente aqui.
E como está sendo sua estadia?
Eu adorei a cidade. Os lugares que visitei eram como eu imaginava. Muito lindos. As pessoas são muito gentis e nos receberam bem. Mas a violência é muito grande.
Fui visitar Santa Teresa com minha namorada e amigos brasileiros. Na volta, fomos assaltados e levaram o carro. Fomos assaltados com fuzil.
Fiquei impressionadíssimo. Como andam com uma arma daquela no meio da cidade? Quando fomos à delegacia, o policial que nos atendeu falou que aquilo era normal. Normal? Como pode ser normal??
Recebemos mil recomendações de onde podemos ir, de como temos que agir em caso de tiroteio e cheguei a ouvir um tiroteio, do apartamento onde eu estava.
Sabia que lá dentro estava protegido, mas fiquei com muito medo e pensava nas pessoas que moram na favela, pois meus amigos falaram que tiroteios como aquele são frequentes em favelas. Não sei como conseguem viver em um lugar que a qualquer momento vira cena de guerra. E o mais impressionante é que o Brasil não está em guerra. Fiquei muito impressionado.
Nada de mais grave nos aconteceu, mas numa próxima oportunidade vou escolher outro lugar apesar das belezas e do maravilhoso povo...