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Desigualdade na Baixada Fluminense

A Baixada Fluminense é uma região vizinha à capital do estado que vem se consolidando ao longo de décadas com problemas sociais, habitacionais, educacionais e de segurança pública. As cidades da região surgiram e cresceram de forma irregular, sem planejamento, e os governos não conseguiram garantir serviços públicos para toda a população. 

Não apenas faltam serviços públicos, mas os que existem não têm qualidade. Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu e Queimados são as cidades que mais representam as características econômicas e sociais da Baixada, mas também integram geograficamente a região os municípios de Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mangaratiba e Seropédica. 

Em torno de 3,7 milhões de habitantes moram na Baixada Fluminense, que concentra cerca de 22,57% da população do estado do Rio de Janeiro. 


Desigualdade e pobreza 

A pobreza se traduz na ausência de um conjunto de direitos como renda, habitação segura, escolaridade com aprendizagem, segurança familiar e comunitária. A desigualdade é perceptível na dificuldade de acessar serviços públicos e emprego.

A Baixada Fluminense soma pobreza e desigualdade. E, sem dúvida, um dos piores resultados dessa equação é a violência.

O Hospital de Nova Iguaçu atende dez cidades da Baixada Fluminense

A Desigualdade na Baixada Fluminense

A Casa Fluminense, uma associação de pessoas físicas e jurídicas que desenvolve ações voltadas para a igualdade e a sustentabilidade, realizou um estudo a partir do qual foi construído o Mapa da Desigualdade da Baixada Fluminense.

A metodologia usada identificou, por exemplo, a quantidade de pessoas que precisa sair de suas cidades para trabalhar em outros municípios, como a capital, já que não existe emprego para todos. 

MUNICÍPIO

MORADORES QUE TRABALHAM FORA DO MUNICÍPIO

Mesquita

60%

Japeri

55%

Belford Roxo

52%

Nilópolis

52%

Queimados

50%

Foi realizada uma comparação entre a renda média mensal dos moradores da Baixada e a renda média mensal de moradores de Niterói e da cidade do Rio de Janeiro. O resultado indica o tamanho da desigualdade.

MUNICÍPIO

RENDA MÉDIA MENSAL (R$)

Niterói

2.888,00

Rio de Janeiro

2.155,00

Japeri

607,00


Quando a questão é segurança, chama a atenção o número de homicídios a cada 100 mil casos, segundo dados de 2016.

MUNICÍPIO

HOMICÍDIOS A CADA 100 MIL CASOS

Niterói

37,2

Rio de Janeiro

29,3

Queimados

134

O economista Vítor Mihessen, coordenador da Casa Fluminense, disse ao Jornal O Dia, em 15 de abril de 2017, que os indicadores gritantes na Baixada Fluminense são fruto de uma histórica concepção de desenvolvimento que supervaloriza a região central e as áreas turísticas.

Apesar de abrigar tantos moradores e tantas cidades, o retrato da Baixada Fluminense ainda mostra ruas sem asfalto e sem saneamento básico. 


Governança 

Outro ponto fundamental que colabora com a desigualdade na Baixada Fluminense é a baixa governança das prefeituras. Atraso no pagamento dos servidores públicos, por exemplo, é comum. Em 2017, a prefeitura de Nova Iguaçu precisou pagar 16 folhas de salários para colocar os pagamentos em dia. O prefeito eleito herdou da gestão anterior três folhas de pagamento atrasadas, incluindo o 13º salário. 

Os servidores das cidades de Duque de Caxias, São João do Meriti e Itaguaí ainda convivem com atrasos nos pagamentos dos salários.

Entrevistas 

O Observatório conversou com uma moradora de Duque de Caxias, que contou um pouco sobre a sua vivência com as desigualdades na região da Baixada. A identidade da entrevistada foi preservada, por motivo de segurança.

Dona Joana, como é viver no seu bairro?
Sabe, eu gosto daqui. Gosto dos vizinhos, gosto da minha casa, mas você tá vendo aí, falta muito de tudo. 

Que tudo que falta?
Limpeza, esgoto, escola para os filhos mais velhos e a praça, onde os meninos ainda brincavam, tá desse jeito, muito abandonada. 

Vocês reclamam com a prefeitura? 
Como o povo diz aí, é mais fácil reclamar com o bispo, né? A prefeitura não faz nada. Político não faz nada, não tem jeito! Aparecem aqui nos tempos da eleição e só. Mas eu não reclamo não. Deus tá comigo e a gente consegue viver e ir em frente. 

Mas poderia ser melhor?
Nossa!! Podia ser muito melhor, a gente podia viver mais tranquilo sim.  Mas fazer o quê? Ficar só reclamando é que não dá.  A gente vive aqui e também não vou ficar só falando mal do lugar que vivo. 

Mas diga só três coisas que poderiam melhorar?
O ônibus podia passar vazio pra gente ir sentada.
Podia ter mais limpeza, os garis passarem aqui pra levar o lixo.
E podia ter um shopping pra gente se divertir no final de semana.

A equipe do Olerj entrevistou também uma enfermeira de uma unidade de saúde que tem vivido com salário atrasado. 

Como é trabalhar com o salário atrasado? 
É desesperador. Imagina eu que trabalho na prefeitura e no estado! Cheguei a ficar com o salário atrasado por três meses. Sem receber nada. 

Essa situação atrapalhou seu trabalho?
Tem que atrapalhar, né? Nunca tratei ninguém mal, mas faltei muito, por que não tinha como vir e tinha que pegar trabalho por fora. 
Então, de verdade, quem mais sofreu, fora a gente que ficou sem salário, foi o paciente. 

Você fez que tipo de trabalho por fora? 
Eu fiquei na engrenagem mesmo. Peguei plantão de amigas e férias também. Mas tem colega que fez de tudo. Agora os salários estão mais em dia, mas a gente ficou com as dívidas. 

É difícil trabalhar aqui na Baixada? 
Olha, eu moro aqui também. Isso me ajuda, pois chego rápido no trabalho. Mas, não sei como tá no Rio. Aqui falta tudo e falta todo dia. Falta até álcool para lavar as mãos. A Baixada é terra esquecida. Quem vive aqui, na verdade, sobrevive.