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Monitor da Violência

Em março deste ano, o portal G1 lançou o Monitor da Violência, que acompanha os dados de crimes violentos no país – homicídios dolosos, quando há intenção de morte; latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Esse número consolidado mês a mês, o Índice Nacional de Homicídios, é gerado a partir de informações oficiais fornecidas pelos estados da Federação.

O Monitor é fruto da parceria entre o portal G1, o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A ferramenta disponibiliza um mapa com as ocorrências de crimes violentos em todo o Brasil a partir de 2011. É possível fazer comparações entre os diferentes estados, ler análises de especialistas e depoimentos de gestores estaduais de segurança. Em abril, o Monitor disponibilizou os dados referentes a fevereiro de 2018.

Os números

Em fevereiro, 3.179 pessoas foram mortas em todo o país, sem contar com informação de seis estados, que não divulgaram os números: Bahia, Maranhão, Minas, Paraná, Rondônia e Tocantins. Ou seja, o número de homicídios pode ser muito maior.

O Rio de Janeiro registrou 461 mortes, 16 pessoas por dia no mês de fevereiro. Um índice de 2,74 por 100 mil habitantes, enquanto que o índice para o país foi de 1,53.

Tipo de Homicídio

Ocorrências

Homicídio doloso

437

Latrocínio

  21

Lesões corporais

    3

Total

461

 

A importância da contabilização dos crimes

Especialistas que analisam os dados de violência para o Monitor apontam uma lacuna fundamental na contabilidade dos números de crimes contra a vida no Brasil. Não há um sistema padronizado de classificação de assassinatos que permita comparar os dados entre os estados brasileiros.

Os exemplos se multiplicam para mostrar que podem existir enormes distorções nos números com que as instituições de segurança pública estão trabalhando.

Se uma pessoa sofre agressão violenta e vem a morrer um mês depois no hospital, o boletim de ocorrência que registrou a agressão como tentativa de homicídio será retificado? Como é contabilizado o estupro que resulta em morte?

A falta de números precisos contribui, sem dúvida, para a manutenção dos enormes desafios na construção de políticas públicas de segurança eficientes, fruto de levantamentos mais precisos.

A intervenção na segurança pública no estado do Rio de Janeiro pode contribuir para a produção de dados e informações para a consolidação de um planejamento de ações e identificação de focos de atenção fundamentados na realidade.

Quem morre e quem mata

É preciso ressaltar também a importância da análise aprofundada dos dados disponíveis, identificando os maiores focos da violência e suas vítimas.

Especialistas ouvidos pelo Monitor da Violência apontam que o perfil das vítimas da violência é semelhante ao de quem mais mata: são homens negros de baixa renda, jovens com até 29 anos, com baixa escolaridade e moradores de favelas e periferias.

O Atlas da Violência, estudo realizado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado em junho de 2017, confirma esses dados. Segundo a publicação, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. E ainda, negros têm 23,5% mais chances de serem assassinados em relação a brasileiros de outras cores, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência. O estudo afirma que “jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”.

Entrevistas

O Observatório conversou com um jovem morador de uma favela da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro sobre violência e morte. Também entrevistou a mãe dele.

Entrevista 1

Você tem só 18 anos e já saiu da escola. Por que?                                                                              Primeiro porque tive meu filho e tenho que trabalhar. E a escola não dava pra mim. Não tenho paciência pra isso não. Meu negócio é trabalhar.

Mas você está trabalhando?                                                                                                                Agora não. Tô com minha mulher e o menino na casa da minha mãe. Mas faço uns serviços para o meu sogro quando ele pega uma obra. E tô bem, quero trabalhar...  Podia já tá envolvido aí ou até já tá morto.

Envolvido no tráfico?                                                                                                                            Isso. Já vi mais de uns três colegas meu da escola morrer aqui mesmo. Um morreu na porta lá de casa por que tava roubando bateria de carro pra vender. Tudo na droga, tudo envolvido.  Minha mãe dá graças a Deus que eu tô casado, sossegado. As amigas dela já quase tudo perdeu filho ou irmão.

Você tem medo da violência?                                                                                                                Não vou mentir não. Tenho muito medo por que quem morre primeiro é a gente. Quando tem invasão, quem morre é a galera. Às vezes nem tem nada a ver com o caso, mas morre.  Só por que é novo, todo mundo já acha que tá envolvido, que usa. Nem saio muito de lá, por que a gente corre o risco dos outros caras cismar, te encontrar na rua e perguntar “da onde tu é?”. E se calhar de ser inimigo, tô morto. Então é melhor ficar na tua, de boa, na comunidade.

 

Entrevista 2

Você tem quantos filhos?                                                                                                                       Só dois. Um casal. E agora tenho o meu neto e a nora, que moram com a gente também.

Quantos anos você tem?                                                                                                                    Vou fazer 36 agora em maio. Tive meu filho novinha também. E sei como é duro a gente ter que se virar. Por isso ajudo eles. Prefiro que eles fiquem aqui com a gente do que aí no meio do mundo. E eu me viro.

A gente estava conversando sobre violência com seu filho. Ele disse que tem medo...

A gente vive com medo. Dorme e acorda com medo, vendo as piores coisas acontecer com os meninos. Coisas horríveis que a gente nem pode comentar. Dos colegas de pequeno do meu filho, já morreu um monte. Eu dou graças a Deus que ele é sossegado.

Os jovens que morreram eram ligados ao tráfico de drogas?

Uns sim, outros não. Olha, basta ficar de bobeira aí na rua, que já vira problema. Ou tem rolo com a polícia, que cisma com qualquer adolescente da favela, ou tem problema com os meninos.

Os meninos são os traficantes?                                                                                                              Isso. A gente fala assim por que são uns meninos mesmo. Tudo garoto. E ninguém dura nada.

Você tem medo do seu filho entrar no tráfico?

Não. Disso não tenho medo não. Mas tenho medo quando a polícia invade. Tenho medo quando o pessoal do Comando quer tomar aqui ou até quando eles saem por aqui. É uma guerra todo dia. Tô cansada de ir a enterro de garoto, dos filhos das colega.

Olha, pra ser sincera, eu não aguento mais viver assim. Juro pra você que tô querendo ir pra qualquer canto longe daqui. Qualquer lugar serve. Quero criar meu neto, ter uma tranquilidade pra sair de casa. Aqui, nem dentro de casa a gente tá com o coração em paz. Uma hora um entra e acaba com a vida de uma mãe. Aqui é assim.