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Tiroteios na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro

Os confrontos armados são, sem dúvida, uma das mais graves ameaças à população do Rio de Janeiro. Os tiroteios levam a óbito os envolvidos no confronto, mas também atingem moradores e pedestres inocentes que nada têm a ver com as disputas e são, em geral, vítimas de balas perdidas.

Relatório do Aplicativo Fogo Cruzado mostra que, nos três primeiros meses da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, ocorreram 2.309 tiroteios ou disparos de arma de fogo na região metropolitana do estado, uma média de 25,9 ocorrências por dia. E também um aumento de 25,3% em relação aos três meses anteriores à intervenção, quando foram 1.842 casos.

O Aplicativo Fogo Cruzado

O Fogo Cruzado é uma plataforma digital, lançada em 2016, originalmente desenvolvida pela Anistia Internacional Brasil. Em janeiro de 2018, o projeto tornou-se independente e autônomo, sob a coordenação do Instituto Update, e não tem mais qualquer relação com a Anistia Internacional.

O objetivo da ferramenta é registrar e divulgar diariamente dados atualizados sobre a incidência de tiroteios e a prevalência de violência armada na região metropolitana do Rio.

Trabalhando com informações enviadas pelos usuários do próprio aplicativo e via WhatsApp, Twitter e Facebook, o aplicativo também consolida informações recolhidas na imprensa e nos canais de divulgação das instituições policiais. Por meio de filtros e cruzamento de informações de bancos de dados, o aplicativo disponibiliza dados atualizados e permanentemente checados.

Antes e depois da intervenção

O Fogo Cruzado divulgou, em 16 de maio, relatório com dados sobre a ocorrência de tiroteios e disparos nos três meses da intervenção na segurança do Rio.

Entre 16 de fevereiro, início da intervenção, e 15 de maio foram registrados 2.309 tiros/disparos de arma de fogo na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. O município do Rio registrou a maior incidência de violência armada, com 1.387 notificações.

Nos três meses anteriores à intervenção, entre 16 de novembro de 2017 e 5 de fevereiro de 2018, a região metropolitana registrou 1.842 tiros/disparos. Veja nos quadros abaixo os números para os municípios da região metropolitana antes e depois da intervenção.

 

Retratos da Intervenção - Fogo Cruzado - Tabela Comparativo.jpg

 

Mortos e Feridos

O saldo de vítimas de tantos tiroteios/disparos na região metropolitana, no período de três meses de intervenção federal, foi de 393 mortos e 302 feridos. A capital do estado registrou o maior número de mortes, com 149 mortos e 167 feridos.

O maior número de mortos ocorreu na Rocinha, favela na Zona Sul do município do Rio, que tem vivido conflitos graves e constantes. Foram 16 mortos e seis feridos no período de três meses. A seguir, no ranking de mortes, vem o bairro de Bangu, na Zona Oeste do Rio, com 12 mortos e oito feridos.

No período de três meses antes da intervenção, entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, no total de 1.842 casos de disparos, houve 390 mortos e 377 feridos na região metropolitana. A cidade do Rio também já havia registrado o maior número de mortos e feridos, com 167 e 222, respectivamente.

Nesse período, a Rocinha era também o local de maior incidência de mortos (15) e feridos (20). Logo depois, estava a Cidade de Deus, com 13 mortos e 8 feridos.

Veja os números dos bairros da região metropolitana com maior incidência de tiroteios e conflitos e também o número de mortos e feridos, no período anterior e nos três primeiros meses da intervenção.

Retratos da Intervenção - Fogo Cruzado - Tabela Bairros.jpg

 

Entrevistas

A equipe do Olerj conversou com Edith, de 54 anos, moradora de Caxias e vítima de um tiroteio.

D. Edith, a senhora já esteve envolvida em algum tiroteio?

Sim. Eu já me sentia envolvida, como você disse, porque de tanto ouvir e ler os relatos de tiroteio na Linha Vermelha, Avenida Brasil, Linha Amarela e Dutra, eu comecei a desenvolver um medo, pânico mesmo, quando ia e voltava do trabalho. Comecei a ter dor de cabeça e pressão alta e meu médico falou que era tensão. Um dia estava indo para casa, umas 17h30, tava na Avenida Brasil, quando o ônibus parou e começamos a ouvir tiros. Foi uma gritaria... Falaram para a gente descer e ficar deitado no chão ao lado do ônibus. Eu ouvi, mas minhas pernas não obedeceram... Fiquei paralisada.

E como foi? A senhora ficou dentro do ônibus?

Não. Me ajudaram a sair. Dois jovens, vendo o meu nervoso, me ajudaram. Sai, escorada por eles, e deitei no chão quente. Não dava para ver o que acontecia. Só escutava tiros e gritos. Pensei que ia morrer e comecei a rezar pedindo para Deus cuidar da minha família...

E como acabou?

Parecia que passou muito tempo, mas depois falaram que foram uns 15 minutos de tiroteio. Os meninos que me ajudaram ficaram do meu lado o tempo todo, e me avisaram que tinha acabado. Só consegui levantar depois de um tempo. Aí ouvi que tinha sido um assalto e que teve troca de tiros com a polícia. Que tinham matado um dos ladrões.

Quando o ônibus passou, vi as pessoas esticando para ver o corpo, mas eu não quis ver. Só queria sair dali.

E como foi depois? Como ficou seu dia a dia?

Se eu tinha pânico antes, ouvindo as histórias, depois de ter estado num tiroteio, piorei. Eu tirei licença médica por dez dias. Quando acabou, tentei ir, mas não consegui nem entrar no ônibus. Fiquei com pavor. O médico falou que tenho a mesma coisa que soldado tem quando volta da guerra. Me encaminhou para o INSS. Estou esperando chegar o dia da perícia. Se não derem minha licença, não sei o que vou fazer.

O Olerj também entrevistou Paulo, de 21 anos, morador de Bonsucesso, na cidade do Rio.

Você já esteve envolvido em algum tiroteio?

Sim, mais de um. Saio do trabalho às 18h e vou de moto para casa. Pego engarrafamento e no trajeto já vi três assaltos em que teve troca de tiro.

Como você reage?

Depende. A vontade é acelerar, mas sei que se tiver polícia, podem me ver de moto e achar que sou bandido, aí...Eu paro no lugar mais protegido e espero acabar. Evito fazer qualquer movimento brusco.

Como acabaram esses três casos que você vivenciou?

Sem fatalidade, graças a Deus. Pelo menos até onde sei, porque em dois a polícia seguiu os assaltantes e não sei o que aconteceu.

E como foi depois? Como ficou o seu dia a dia?

Na mesma. Procuro me informar, quando vou sair, se alguém no grupo do bairro no Facebook fala de alguma ocorrência. Procuro não circular tarde. Ando sempre de calça comprida e camisa social para não me confundirem com bandido. Me sinto triste de viver isso. Parece que tô numa guerra.